Acordei assim hoje, misto de irritação, disposição, felicidade, impaciência, determinação, calor e medo. Não sei como pode uma pessoa sentir coisas tão distintas numa manhã - num despertar, a bem dizer.
E nada como a vida para dosar bem cada coisa e fazer-me ver que a importância de tudo isso que sinto depende, só para variar, do referencial.
Num espacinho de duas horas uma avalanche de pessoas, fatos, histórias, problemas e alegrias embolou tudo mais e voltei ao estado entorpecido de me sentir uma abençoada porque tudo (ou pelo menos os meus problemas) me parece tão leve, tão pouco traumático, tão auto-solúvel.

Meus gatos estão lindos de coleiras novas.
O atendimento público gratuito ainda funciona bem em alguns setores e me sinto orgulhosa de ser brasileira.
Os problemas com o banco me parecem tão simples no dia de hoje.
E eu que achava que precisava de muita coisa me vejo doando sacos de roupas, sapatos, bolsas, brinquedos, livros. Tanta coisa que a gente carrega e não usa. (A gente precisa de muito menos do que imagina.)
As pessoas que amamos estão sempre na hora certa no lugar certo para nos ajudarem a notar algo que passava despercebido.
E por mais que a gente menos acredite, um ou outro detalhe teima em acenar nos ajudando a não perder o rumo.

Se pudermos ajudar alguém a ser melhor e se encontrarmos quem nos faça o mesmo, tudo tem sentido. E fica tão seguro, mesmo que seja no meio do caos.

"É preciso ter o caos dentro de si para dar à luz uma estrela", sempre disse El Bigodon.