domingo, maio 04, 2008

Cócegas

Estava ainda aprendendo a andar sozinha, colocar os pés no chão e sentir na pele o cheiro da terra molhada. Os grãos entre os dedos, fazendo cosquinha e pressionando as unhas. Aquela leve pressão que dava vontade de sentar no chão e cavoucar tudo.
Em outros tempos, correria para lavar os pés.
Mas não hoje, não naquela manhã de sol fraco e brisa fria.
Era tamanha a vontade de chão, de ar, de água, que havia decidido largar todos os compromissos e sair andando, de chinelo, vestido largo, cabelos soltos, calcinha de algodão.
Queria estar livre. Sentir o mormaço do sol, os pelos arrepiando em resposta ao toque da brisa.
Pensava nos dias passados, nas presenças que tinha a sorte de ter pela vida. Chorava e sorria enquanto se sentia extremamente viva.
Em cada parte de seu pequeno corpo, fervia alguma emoção, e os grãos de terra teimavam em fazer-lhe cócegas nos pés.
Ria... Ria...
E as lágrimas desciam.
Estava só, novamente.

(Escrito em 10/10/2007)

Um comentário:

Prica disse...

oie, primeiro comentário!!que honra!
Abraçaria esta mulher de vestido largo, cabelos soltos, chinelo e calcinha de algodão e não a deixaria sair...
secaria suas lágrimas e beijaria seu riso...
Lindo texto...