terça-feira, outubro 04, 2016

Sobre VOTO NULO

Sou daquelas pessoas de quase 40 anos que comemorou muito quando passou a ser possível tirar título de eleitor aos 16 anos.
Estudava em colégio público, estadual, com um grêmio estudantil super ativo e eficiente (obrigada, meu amigo Alex Castellar, pelo que compartilhamos naquela época!), vim de uma família com educação, com consciência política, de coletivo e de bairro simples, pequeno (nem tão pequeno, afinal Jacarepaguá não é nada geograficamente pequeno, embora seja tido como “roça”). Naturalmente nosso pensamento e desejos eram (felizmente continuam sendo) pelo todo, pelo social, pelo coletivo, o que nos levava, naturalmente, a sermos de Esquerda já que assim o “pelo povo” real se posiciona. Estive diante de eleições por muitas vezes nesses anos, muitas, mas muuuuuuuuuuuuuuuitas vezes tive a infelicidade de não ter candidato que me representasse e muitas vezes enchi a boca pra dizer que anularia meu voto, já que “não dava pra votar em ninguém, nenhum deles me representava”. “Que voto útil que nada!” Enchia a boca, dizia e anulava mesmo. Orgulhava-me disso. Era cheia de ideais e esse ideais me levavam a ser radical, irredutível, ativista e TOLA. Sim, MUITO TOLA. Algumas vezes, depois de algumas eleições dessas, via os candidatos eleitos fazendo as bobagens esperadas e, neste momento, também enchia a boca pra dizer “viu? Taí o que vcs queriam, pediram... Eu não, não votei em nenhum desses”. MAIS TOLA ainda eu era. Mais que tola, BURRA mesmo, IGNORANTE. Até INCONSEQUENTE e EGOÍSTA. Eu, que era tão pelo todo, pelo social, por ideais meus, só meus, abria mão de exercer meu direito (obrigatório, porque voto no Brasil é obrigatório, né? mas ainda assim, um direito! Podíamos não tê-lo). Abria mão de exercer meu direito, entregava minha voz à voz de qualquer um que votasse e me abstinha da política, de qualquer opção de cobrar, de dar opinião, ou de qualquer chance de pensar nas nossas necessidades, na nossa cidade, no nosso estado, no nosso país, onde, em todos os níveis, minha família e eu estamos inseridos.
Felizmente a vida muda, evolui, cresce... Eu tive a oportunidade de observar, de conhecer pessoas, de ler, de crescer, de ter filhos... Com isso tudo, e principalmente por ter tido filhos, tive a oportunidade de mudar. Hoje em dia penso que anular voto diante de dois candidatos que não são os nossos ideias, que não representam nosso pensamento, o que gostaríamos pra política de nossa cidade (ou qual seja instância) é de uma NULIDADE (claro!) incrível, é de um egoísmo e ignorância como os que eu cometia na juventude. É entregar 4 anos de minha vida, pior, É ENTREGAR QUATRO ANOS DA VIDA DE MEUS FILHOS! Na escala de vida deles, é muito, é demais! É entregar os 4 anos do mandato, mas também entregar todos os anos das consequências bosta com as quais teremos todos que lidar.
Com minhas amigas ativistas pelo parto humanizado, aprendi sobre direitos femininos, sobre autonomia, sobre empoderamento, aprendi sobre minhas responsabilidades, aprendi onde caem as responsabilidades pelas minhas escolhas, e pelas minhas não-escolhas! Aprendi que política se faz todo dia, política se vive nas conversas, se vive em casa. Que sim, no colégio de meus filhos se trata de política e tem que tratar. Que temos um papel social e por todos muito maior que “fazer doações aos necessitados”, que “dar moedinha pra criança na rua”, que “pagar um café pra um sem-teto”. Aprendi que a política não é feita somente por aqueles que elegemos, que não basta só votar, ou anular, e depois ficar falando que políticos não prestam e só pensam neles e não no povo... Aliás, que o povo não é aquele lá longe. O povo é a aqui, é na minha casa, são as minhas amigas, são todos os nossos amigos e familiares, todos os nossos filhos, os dos outros, é todo mundo com quem a gente cruza na rua e que o entorno é nossa casa. ANULAR VOTO É SER NULO. É SE ABSTER DE TER OPINIÃO. É SE ABSTER DE RESPONSABILIDADE, OU APENAS TENTAR, PORQUE A RESPONSABILIDADE PELO QUE VIER DE RUIM É TAMBÉM DE QUEM ANULA. É entregar um papel e uma responsabilidade que é nossa! Eu, como cidadã, como mulher, como ativista, como feminista, como mãe, acima de tudo, não tenho o direito nem a possibilidade de anular meu voto. Eu não tenho 4 anos a perder esperando o próximo mandato, meus filhos não têm 4 anos a perder esperando próximo mandato. Nossa cidade, nosso estado, nosso país e todos nós não podemos perder mais 4 anos esperando o próximo mandato e quando, enfim, poderá ser que sejamos o país do futuro. Como disse minha amiga Raquel Marques, nós (algumas de nós pelo menos!) não somos pêra-com-leite, não podemos nos abster de fazer! TEMOS UM PAÍS INTEIRO A CONSTRUIR. Desistir não é um caminho. Cruzar os braços não é uma opção. Cada dia é uma luta e continuará sendo, VOTAR FAZ PARTE DA LUTA.
*Ainda que não haja candidato que lhe represente, pense sim no que tem potencial de ser pior, e pense em, ao menos, tentar fazer a sua parte para que tenhamos o menos pior possível, enquanto não pudermos ser e fazer de outra forma. Tendo algum candidato, sendo seu ideal ou não, não apenas vote e esqueça, até as próximas eleições. Vote, acompanhe as ações de quem foi eleito, sendo seu candidato ou não. Cobre. Faça de sua vida política também, para depois não ficar como expectador e vítima, sendo apenas mais uma voz junto aos acomodados e nulos, ou anulados, de nosso pais.

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