Sou daquelas pessoas de quase 40 anos que comemorou muito
quando passou a ser possível tirar título de eleitor aos 16 anos.
Estudava em colégio público, estadual, com um grêmio
estudantil super ativo e eficiente (obrigada, meu amigo Alex Castellar, pelo
que compartilhamos naquela época!), vim de uma família com educação, com
consciência política, de coletivo e de bairro simples, pequeno (nem tão
pequeno, afinal Jacarepaguá não é nada geograficamente pequeno, embora seja
tido como “roça”). Naturalmente nosso pensamento e desejos eram (felizmente
continuam sendo) pelo todo, pelo social, pelo coletivo, o que nos levava, naturalmente,
a sermos de Esquerda já que assim o “pelo povo” real se posiciona. Estive
diante de eleições por muitas vezes nesses anos, muitas, mas
muuuuuuuuuuuuuuuitas vezes tive a infelicidade de não ter candidato que me
representasse e muitas vezes enchi a boca pra dizer que anularia meu voto, já
que “não dava pra votar em ninguém, nenhum deles me representava”. “Que voto
útil que nada!” Enchia a boca, dizia e anulava mesmo. Orgulhava-me disso. Era
cheia de ideais e esse ideais me levavam a ser radical, irredutível, ativista e
TOLA. Sim, MUITO TOLA. Algumas vezes, depois de algumas eleições dessas, via os
candidatos eleitos fazendo as bobagens esperadas e, neste momento, também
enchia a boca pra dizer “viu? Taí o que vcs queriam, pediram... Eu não, não
votei em nenhum desses”. MAIS TOLA ainda eu era. Mais que tola, BURRA mesmo,
IGNORANTE. Até INCONSEQUENTE e EGOÍSTA. Eu, que era tão pelo todo, pelo social,
por ideais meus, só meus, abria mão de exercer meu direito (obrigatório, porque
voto no Brasil é obrigatório, né? mas ainda assim, um direito! Podíamos não
tê-lo). Abria mão de exercer meu direito, entregava minha voz à voz de qualquer
um que votasse e me abstinha da política, de qualquer opção de cobrar, de dar
opinião, ou de qualquer chance de pensar nas nossas necessidades, na nossa
cidade, no nosso estado, no nosso país, onde, em todos os níveis, minha família
e eu estamos inseridos.
Felizmente a vida muda, evolui, cresce... Eu tive a
oportunidade de observar, de conhecer pessoas, de ler, de crescer, de ter filhos...
Com isso tudo, e principalmente por ter tido filhos, tive a oportunidade de
mudar. Hoje em dia penso que anular voto diante de dois candidatos que não são
os nossos ideias, que não representam nosso pensamento, o que gostaríamos pra
política de nossa cidade (ou qual seja instância) é de uma NULIDADE (claro!)
incrível, é de um egoísmo e ignorância como os que eu cometia na juventude. É
entregar 4 anos de minha vida, pior, É ENTREGAR QUATRO ANOS DA VIDA DE MEUS
FILHOS! Na escala de vida deles, é muito, é demais! É entregar os 4 anos do
mandato, mas também entregar todos os anos das consequências bosta com as quais
teremos todos que lidar.
Com minhas amigas ativistas pelo parto humanizado, aprendi
sobre direitos femininos, sobre autonomia, sobre empoderamento, aprendi sobre
minhas responsabilidades, aprendi onde caem as responsabilidades pelas minhas
escolhas, e pelas minhas não-escolhas! Aprendi que política se faz todo dia,
política se vive nas conversas, se vive em casa. Que sim, no colégio de meus filhos
se trata de política e tem que tratar. Que temos um papel social e por todos
muito maior que “fazer doações aos necessitados”, que “dar moedinha pra criança
na rua”, que “pagar um café pra um sem-teto”. Aprendi que a política não é
feita somente por aqueles que elegemos, que não basta só votar, ou anular, e
depois ficar falando que políticos não prestam e só pensam neles e não no
povo... Aliás, que o povo não é aquele lá longe. O povo é a aqui, é na minha
casa, são as minhas amigas, são todos os nossos amigos e familiares, todos os
nossos filhos, os dos outros, é todo mundo com quem a gente cruza na rua e que
o entorno é nossa casa. ANULAR VOTO É SER NULO. É SE ABSTER DE TER OPINIÃO. É
SE ABSTER DE RESPONSABILIDADE, OU APENAS TENTAR, PORQUE A RESPONSABILIDADE PELO
QUE VIER DE RUIM É TAMBÉM DE QUEM ANULA. É entregar um papel e uma
responsabilidade que é nossa! Eu, como cidadã, como mulher, como ativista, como
feminista, como mãe, acima de tudo, não tenho o direito nem a possibilidade de
anular meu voto. Eu não tenho 4 anos a perder esperando o próximo mandato, meus
filhos não têm 4 anos a perder esperando próximo mandato. Nossa cidade, nosso
estado, nosso país e todos nós não podemos perder mais 4 anos esperando o
próximo mandato e quando, enfim, poderá ser que sejamos o país do futuro. Como
disse minha amiga Raquel Marques, nós (algumas de nós pelo menos!) não somos
pêra-com-leite, não podemos nos abster de fazer! TEMOS UM PAÍS INTEIRO A
CONSTRUIR. Desistir não é um caminho. Cruzar os braços não é uma opção. Cada
dia é uma luta e continuará sendo, VOTAR FAZ PARTE DA LUTA.
*Ainda
que não haja candidato que lhe represente, pense sim no que tem potencial de
ser pior, e pense em, ao menos, tentar fazer a sua parte para que tenhamos o
menos pior possível, enquanto não pudermos ser e fazer de outra forma. Tendo
algum candidato, sendo seu ideal ou não, não apenas vote e esqueça, até as
próximas eleições. Vote, acompanhe as ações de quem foi eleito, sendo seu
candidato ou não. Cobre. Faça de sua vida política também, para depois não
ficar como expectador e vítima, sendo apenas mais uma voz junto aos acomodados
e nulos, ou anulados, de nosso pais.
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