terça-feira, fevereiro 11, 2014

Nem Luxo, nem Lixo

"Como vai você?
Assim como eu
Uma pessoa comum
Um filho de Deus
Nessa canoa furada
Remando contra a maré
Não acredito em nada
MAS não duvido da fé...
Não quero luxo nem lixo
Meu sonho é ser imortal
Meu amor!
Não quero luxo nem lixo
Quero saúde pra gozar no final
Luxo! Lixo!
Meu sonho é ser imortal
Meu amor!
Não quero luxo nem lixo

Quero saúde pra gozar no final..."



Depois de uns acontecidos nas últimas semanas, comigo e na cidade, e depois de um debate no Facebook de um amigo ontem, desde ontem e até hoje fiquei pensando em como é normal criticarmos o outro, vermos o errado nas atitudes do outro quando qualquer coisa nos agride e invade, ultrapassa nossos direitos e o que achamos certo.
Aqui no Rio virou normal fazer justiça com as próprias mãos... Postam fotos de pessoas mortas, ensaguentadas caídas no chão, batem e amarram em poste o pivete nu, grupos de jovens da zona sul se juntam pra fazer ronda noturna... E as pessoas "ovacionam digitalmente", comemoram ("bandido bom é bandido morto", "eba, menos pivete no Rio", "me diz ontem me junto aos justiceiros!", "já que a polícia não faz seu papel, a população faz!" - dizem), acham tudo normal e muito bom.
Acontece uma ultrapassagem mais forte, o motorista da frente faz uma bandalha, o taxista para em qualquer lugar pra pegar passageiro, um pedestre caminha na ciclovia (sabendo ou não sabendo que aquilo ali é uma ciclovia) e o normal é logo xingar, é reduzir a pessoa  a pó de m#5d@, se é negro é porque é "preto funkeiro", se é mulher é "burra", se é uma  senhora é "velha cega e surda", se é uma pessoa simples é um "favelado" e não faltam termos e denominações de grupos ou não para diminuir o outro.
Quem se sente afetado justifica sua (pseudo)revolta por ter um rosário de vezes que foi fechado na rua, ou que um carro quase atropelou (de bike ou a pé), de calçadas que estavam bloqueadas, de skatista que estava na ciclovia e não devia, de pedestre que não anda na linha onde tem que andar. Há pedestre que estava no ponto de ônibus e foi atropelado, tem cliente que estava no restaurante e o carro subiu na calçada e adentrou o local atropelando vários, tem pedestre que estava na calçada e tomou uma marretada na cabeça, caída de algum andar em obra. Cai marquise em cima de gente, despenca prédio no centro, cai galho de árvore em cima de carro. Também tem idoso que é mal-educado na fila do mercado, mesmo tendo fila prioritária, tem gente que não respeita a fila prioritária dos idosos... Tem atendimento ruim, tem falta de qualidade, tem trapaça e privilégios desiguais, favorecimentos, sonegação, violência... Tem tudo isso e muito mais que nem lembro pra registrar (ou meu cérebro bloqueou, pelo meu bem). E atentem: isso não é só no Rio, não é só no Brasil... Tem em todo lugar, mais ou menos, que a gente sabe ou não sabe, que a mídia compartilha ou não, explora ou não, de forma sensacionalista ou não.
De todos nós que facilmente chamamos alguém de burro, idiota, imbecil, errado, quem é que não faz ou fez igual em alguma situação? Eu não tenho como estar a 40Km/h numa ciclovia pra poder reclamar de um pedestre nela, porque aprendi a pedalar ontem e tenho mais medo que segurança, mas seguramente já atravessei fora da faixa e fora do sinal, fazendo alguém ter que frear ou sair de mim pra não me atropelar, já caminhei na ciclovia também, e já estive no Aterro final de semana "tartarugueando" com uma bike alugada e quase levei trauletada daqueles ciclistas que tem bikes maravilhosas, as tais "speeds", e andam a sei lá quantos quilômetros naquela pista cheia de criança.
Não acho justo que os bandidos vivam soltos e façam o que querem, e a gente viva com medo e em jaulas com grades. Mas também, não acho que nossa sociedade tenho discernimento, valores e ética suficiente pra aplicar justiça com as próprias mãos justo porque olhamos e julgamos com nosso umbigo, dentro do que nos incomoda. Ponto.
Cadê os justiceiros na hora de votar? Cadê os justiceiros pra fazer trabalho voluntário? Quem de nós que se revolta contra o Cabral e o Paes e que efetivamente faz algo pra mudar a consciência política em nossa cidade? Quem de nós trabalha pra educar quem não tem acesso a nada?
Estamos todos na mesma "canoa furada, remando contra a maré e não acreditamos"... Muitos ainda duvidam da fé também... A única forma que acho que existe de melhor alguma coisa é ajudar a que as pessoas pensem, a que elas tenham valores do bem, que sejam éticas, que pensem no próximo como um ser humano com os mesmos direitos. Que ao invés de só chamar os outros de funkeiro(a), imbecil, burra(o), velha(o), pivete etc. efetivamente ajam pelo bem.
Que o invés de plantarmos revolta, plantemos amor, respeito e ação, muita ação!
E não é porque deu errado 1, 2, 3, 10, 100...1000 vezes que devemos deixar de ser éticos, de pensar e fazer o bem.
A Paz, a civilidade, a solução começa em CADA UM, em CADA PENSAMENTO, e em CADA ATITUDE! E isso não é balela, não é ser Poliana, é real. E até agora, pelo que nos mostra a história, nem impérios, nem barbáries, nem guerras, nem revoltas civis armadas foram a solução! Que possamos dar uma chance à alternativa de determinadamente e com afinco sermos a Paz, a cada momento!

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