segunda-feira, janeiro 09, 2012

‎"Quando uma mulher se abre o que há de mais solitário se alarga.
Espantalhos de dor se mostram e se decompõem.
Flocos de agonia se aproximam.
Crescem perdas.
Voam conchas.
Uma mulher que se abre é uma mulher mergulhada em anáguas e sendas.
Saltando sobre a luz.
Deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas.
Quebrada, ela conduz corações ao túmulo.
Esperando que uma nova morte traga-lhe nova grinalda e novo véu.
Em surdina, uma mulher que se abre deseja o esquecimento e a maternidade.
Quer parir, dormir, trepar.
Morte à memória!
- O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos - disse-lhe um livro com o sol no ventre.
O extravio de uma mulher que se abre é um deslumbre.
Uma significação doce e mórbida. Possui a beleza e está carregado de hóstias e sepulturas.
Moças e rapazes, caindo em abismos, sustentam essa mulher aberta.
Beijam-lhe o útero exposto.
Afogado em seus cabelos, ela se arqueia na esperança que o amor, quando novamente acontecer, não traga algemas.
Uma mulher que se abre é pedra, cratera, rio, relíquia.
Traz na língua o perdão e suas chamas."

[Marize Castro]

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